Adolescentes Grávidas, de quem é a culpa?
Segundo o Ministério da Saúde, atualmente, mais de 434,5 mil adolescentes entre 11 e 16 anos se tornam mães por ano no Brasil. Cerca de 66% dessas gestações não são planejadas e 75% dessas mães abandonam a escola.
Muitas pessoas me perguntam sobre a prevenção da gravidez precoce, com tanto acesso a informação aos métodos contraceptivos, porque ainda temos tantas adolescentes engravidando no Brasil? Nós avançamos muito em tecnologia, porém em assuntos tão recorrentes como esse, tratamos de maneira arcaica.
Na minha opinião, pensando em Saúde Pública e Saúde Coletiva, os dados em saúde precisam ser acompanhados por dados socioeconômicos. Esse quantitativo de adolescentes grávidas, quantas são da classe C e D? Qual o tipo de acesso a saúde da maioria? Privado? SUS? E onde moram essas adolescentes? Periferias? Centros urbanos? Rurais? Onde estudam? Se estudam? Qual a escolaridade de seus cuidadores? Qual tipo de acesso a cultura elas possuem?
Quando formulamos um Projeto de Intervenção, ou até mesmo uma politica publica, precisamos saber quem queremos alcançar, pra isso, traçar um perfil socioeconômico é fundamental para o sucesso na implementação de um projeto ou politica. Um dos grandes erros que cometemos é a centralização do olhar. Para um projeto de saúde dar certo, precisamos que outros setores estejam dispostos a assumir um compromisso em sua execução. Posso afirmar assim, que um projeto de sucesso geralmente acontece da união de olhares da saúde, da educação, da cultura e dos serviços de assistência social. Infelizmente no Brasil, vemos hoje uma desvalorização dos profissionais de Assistência social, que não possuem autonomia em executar projetos , em ter fundos de financiamento e centros de atendimento para o desenvolvimento de pessoas em situação de vulnerabilidade e miséria. O que deveria ser a porta de entrada para implementação e discussões de políticas de saúde e educação, pois é ali que encontramos o nosso gargalo social.
Conhecendo as pessoas que realmente precisam, podemos identificar os porquês dessa realidade. Por que temos 66% de mães que engravidam de forma não planejada? Ou seja, não queriam engravidar, mas estão passando por isso agora. Por que? Em que contexto vivem essas adolescentes? Qual o nível de acesso a equipamentos culturais até sua idade essa adolescente teve? E porque 75% abandonam a escola? Será somente o fato de ter um filho, ou será pela falta de assistência? Ausência de uma rede de apoio? Pela necessidade de geração de renda? Pelo abandono do pai do bebe? Será que essa mãe esta sendo negligenciada?
Enquanto não tivermos respostas pra todas essas ou mais perguntas, não teremos sucesso em uma Proposta de Intervenção…
Agora , porque o Providenciando ainda não fez um projeto de prevenção a gravidez precoce? Eu posso te responder. Porque estamos apagando o incêndio de políticas que não funcionam… Porque ainda temos 434,5 mil adolescentes grávidas sem uma rede de apoio no Brasil, e esse mesmo quantitativo de bebes nascendo, que repetem o contexto vivido pelos pais, e são gestados por mulheres que tentam esconder as suas barrigas com vergonha do julgamento social. São gestados por mulheres que sofrem violência obstétrica, muitas vezes sem ninguém para ampará-las, num momento da vida que era pra ser lindo, o gestar e o parir, e que pra elas, não há beleza, e sim dor, vergonha e julgamento. Como teremos uma transformação social de longo prazo no Brasil, se ainda temos bebes gestados sem se sentirem bem vindos no mundo?
A educação Perinatal é a luz no fim do túnel para muitas mulheres que encontram redes de apoio enquanto estão grávidas, e conseguem transformar uma gestação indesejada, em bebes amados e esperados pelos pais. Um rede sem julgamentos, que mostram a elas a beleza da maternidade, deixam elas experimentarem uma gestação plena, em busca de um bebe pleno e um futuro mais promissor! Essa é a nossa missão nesse momento! Em breve vamos conseguir abraçar essas mães , seus bebes nos primeiros mil dias de vida. Isso será lindo demais…! E assim, quem sabe teremos políticas publicas de inclusão de mães jovens no mercado de trabalho, de mães com bebes no ambiente escolar, quem sabe até melhorias nas leis trabalhistas para mulheres mães…o céu é o limite.
Raquel Spinelli
Fisioterapeuta, Sanitarista e Educadora Perinatal